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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Britânico que caminhou no Amazonas elogia consciência ambiental de jovens no Brasil

O britânico que percorreu o rio Amazonas da nascente à foz disse que ver a destruição da floresta é "de partir o coração", mas contou que está "otimista" em relação à consciência ambiental das novas gerações no Brasil. Ed Stafford, de 34 anos, falou à BBC Brasil horas depois de completar a façanha de caminhar 859 dias do Peru até a região em que o Amazonas se encontra com o Oceano Atlântico, em Belém.
Ao longo do caminho, "os momentos mais inesquecíveis foram no meio da floresta, em torno do fogo, logo após um banho de rio", disse o aventureiro.
"O isolamento e a sensação de estar perto da floresta é fantástico. Depois disso, entrar em uma área de floresta que acabou de ser cortada, quando a floresta se torna vegetação secundária, é de partir o coração."

Exploração de madeira

Ed saiu do Peru no dia 2 de abril de 2008, em uma viagem que teve como objetivo chamar atenção para os perigos que ameaçam a floresta e levantar recursos para entidades ambientais.
Cinco meses depois, encontrou o peruano Gadiel Sánchez, o Cho, que a princípio entrou na viagem apenas como guia por cinco dias e acabou caminhando por dois anos até o resto da expedição.
"Em termos de desmatamento, infelizmente, essa é uma batalha que ainda não foi vencida", contou Ed, de seu telefone por satélite de Belém. "Há tanta exploração madeireira sendo feita sem nenhuma fiscalização, sem nenhuma autoridade para fazer valer as restrições. É triste."
"Os velhos donos do poder ainda estão mandando, e são eles que se beneficiam da exploração da floresta, e enquanto eles estiverem no poder isso vai continuar acontecendo", disse.
"Por outro lado, as novas gerações, especialmente no Brasil, estão muito, muito conscientes das questões ambientais e têm muito orgulho de sua floresta, então estou otimista em que essa situação pode mudar."
Já o peruano Cho, que vem de uma comunidade humilde baseada na exploração cafeeira e madeireira da floresta, contou que a viagem serviu para fazê-lo "experimentar as coisas que existem na floresta" e que ele não havia percebido.
"A floresta é linda e nós a estamos destruindo", disse, simplesmente. "Precisamos reflorestar, precisamos fazer alguma coisa para preservar a floresta."

Expedição

A saga dos dois terminou na segunda-feira pela manhã, após uma noite passada caminhando. Ed disse que a atenção que recebeu das comunidades por onde passava, principalmente à medida que se aproximava ao fim da expedição, deixou-o "surpreso" e "emocionado".
"Este foi o dia mais fenomenal da minha vida", disse, ao alcançar o mar da costa paraense.
"Eu estava me preparando para a decepção com o dia de hoje porque, depois de dois anos e meio, não se pode esperar que a história ainda seja fantástica. Mas quando cheguei ao mar e senti a positividade dos moradores... as pessoas vieram ver, tocaram música ao vivo, todo mundo estava dançando na praia, além de toda a atenção da imprensa..."
O britânico disse que foi contaminado pela "simpatia e generosidade" dos brasileiros.
"É um contraste tão grande com as comunidades fechadas do Peru", comparou. "No Brasil, fomos recebidos de braços abertos em todos os lugarejos aonde chegávamos."
Até por essa razão, Ed credita a Cho muito do sucesso da expedição. No blog onde contou, ao longo dos anos, o dia-a-dia de sua aventura, ele diz que o peruano escapou da morte diversas vezes por um triz - mas sempre mantendo a calma e a serenidade.
Um dos vídeos mostrados no blog, por exemplo, mostra Cho extremamente debilitado após contrair uma doença tropical. O peruano diz que nunca teve medo de morrer.
"Medo? Não, nunca tive medo de nada. Fiquei preocupado porque não estávamos avançando por minha culpa, porque eu estava doente", disse.
"É claro que eu me preocupava com minha saúde, mas nessas horas, que diferença faz se eu estivesse doente ou saudável? Eu apenas pensava que, se tivesse de morrer, eu morreria. Se tivesse de viver, viveria. Mais cedo ou mais tarde, o que tem de acontecer na vida de alguém acontece."
As estatísticas que a equipe de Ed divulgou aos jornalistas são curiosas. Estima-se que ele tenha recebido 50 mil picadas de mosquitos e ferroadas de milhares de vespas e abelhas ao longo da caminhada.
O britânico também foi picado por um escorpião e uma formiga gigante, contraiu leishmaniose e teve a cabeça populada por ovos da mosca-de-cavalo.

Risco de morte

Mas nada, diz ele, se compara ao temor de ser morto pelos índios ashaninka, que pensaram que ele queria matar crianças para roubar-lhes os órgãos para o tráfico.
"Usávamos uma frequência de rádio para avisar as comunidades que estávamos nas redondezas. No entanto, uma delas respondeu ao nosso comunicado, dizendo que se qualquer homem branco entrasse na área deles seria morto", contou.
Segundo o britânico, Cho teve a ideia de navegar por ilhas e dar a volta pela comunidade. Mas os indígenas perceberam a estratégia e os abordaram com canoas, os homens armados com armas de fogo e arcos e flechas e as mulheres, com facões.
"Eles estavam furiosos. Não tenho dúvida de que se tivéssemos sido agressivos eles estavam prontos para nos matar, mas não fomos, nos comportamos da maneira mais passiva que foi possível", disse Ed. "Ao longo do tempo essa situação foi se desanuviando e percebemos que são pessoas incríveis."
Após a aventura, o ex-capitão do Exército diz que planeja uma nova expedição, possivelmente em setembro de 2011. Mas ele se recusa a revelar os planos "porque essa é uma indústria muito dinâmica e é preciso esconder as cartas do baralho antes de jogar".
Por ora, Ed, que também serviu no Afeganistão, diz que quer simplesmente voltar para casa e "dedicar tempo à família".
"Dois anos e meio é muito tempo para ficar longe. Nesse período, minha irmã se casou e teve um filho, que é meu primeiro sobrinho. Pensando bem, uma expedição deste tipo é algo bastante egoísta", afirma Ed.
"Ainda que a viagem tenha tido uma finalidade educacional, de educar crianças sobre o meio ambiente e levantar fundos para entidades ambientais, no fundo é uma grande aventura de garotão."
Já Cho diz que pretende voltar para sua comunidade e fazer "alguma coisa pelo meio ambiente".
"Quero voltar para o Peru e ter a oportunidade de trabalhar com algum projeto de reflorestamento", afirma. "Se não com alguma comunidade, pelo menos para mim, com um ou dois hectares. Quero fazer o que estiver ao meu alcance."

Fonte : BBC © British Broadcasting Corporation .

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