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sábado, 8 de janeiro de 2011

O DESERTO AVANÇA




O avanço implacável da desertificação
Cerca de 25% da massa terrestre sofre com a degradação dos solos em zonas áridas, um processo que prossegue em ritmo constante e hoje ameaça a subsistência de mais de um bilhão de pessoas. O assunto já se tornou prioridade em várias partes do mundo


Evanildo da Silveira

Shutterstock
A cada ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 6 milhões de hectares de terras (ou 60 mil km², área que equivale a duas vezes a da Bélgica) se tornam improdutivos e caminham para se transformar em deserto. Como resultado desse processo, há perdas anuais de 24 bilhões de toneladas da camada arável, o que influi negativamente na produção agrícola e no desenvolvimento sustentável. Por isso, já existe consenso em nível internacional de que esse é o maior problema econômico, social e ambiental em várias regiões do mundo.
Os números justificam essa ideia. De acordo com a ONU, a degradação já afeta 3,6 bilhões de hectares, somando 25% da massa terrestre, o que ameaça a subsistência de mais de um bilhão de pessoas em cerca de 110 países. Na região subsaariana da África, por exemplo, de 20% a 50% das terras estão degradadas, prejudicando mais de 200 milhões de pessoas. A situação também é grave na Ásia e na América Latina, somando mais de 516 milhões de hectares. Em todo o mundo, a extensão territorial onde ocorrem secas aumentou mais de 50% durante o século 20.
No Brasil, os dados também impressionam. As áreas suscetíveis à desertificação (ASD) no País estão localizadas principalmente no Nordeste e em uma pequena parte do Sudeste, onde se encontram espaços climaticamente caracterizados como semiáridos e subúmidos secos. No total, essas áreas somam aproximadamente 1,34 milhão de km², ou 15,72% do território nacional, abrangendo 1.488 municípios e afetando diretamente em torno de 32 milhões de pessoas, nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, além de algumas áreas de Minas Gerais e do Espírito Santo.
Calcula-se que 180 mil km² já se encontram em processo de desertificação, concentrados principalmente no Nordeste. As áreas com níveis mais intensos de degradação, chamadas de núcleos de desertificação, estão localizadas nas regiões de Gilbués, no Piauí, Irauçuba, no Ceará, Seridó, no Rio Grande do Norte, e Cabrobó, em Pernambuco. Além dessas, há outras que caminham para o mesmo destino – por exemplo, no Cariri paraibano, no sertão da Bahia e em Canindé, no Ceará.
Apesar de receber a designação de ASD, esses locais têm características peculiares em relação a outras áreas do planeta com o mesmo quadro. Em termos relativos, seu índice de chuvas e sua densidade demográfica são maiores. Além disso, seu espaço abriga um bioma único no mundo, a caatinga. Para piorar a situação, o efeito estufa, que vem se acentuando nos últimos anos, deverá agravar o processo nas próximas décadas.
Segundo o meteorologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o aquecimento global vai tornar as secas e as chuvas mais intensas nas regiões semiáridas. Isto é, vai chover menos, mas quando isso ocorrer as precipitações serão mais fortes. “São justamente as condições que, aliadas à ação do homem, aceleram o processo de desertificação”, diz. “Por isso, a tendência é de agravamento desse quadro.”
Werner Rudhart/DPA/AFP / Roberto Pera/DPA/AFP
Um homem e seus dois filhos vendem tatus em região do Piauí afetada pela desertificação. Quase 16% das terras do País estão suscetíveis a esse processo. Ao lado, o leito seco do Rio Limay, no sul da Argentina, outra área sob risco de desertificação.

As causas do fenômeno são várias. Uma das principais é o uso inadequado das terras. “Normalmente, a falta de planejamento na ocupação do solo conduz à sobrecarga do meio ambiente, levando à degradação da terra e de outros recursos naturais, como a água e as florestas”, explica o engenheiro agrônomo Luciano Accioly, da Embrapa Solos de Recife (uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Segundo ele, no Nordeste, o uso para fins de agricultura e pecuária da região do semiárido ocorre, na grande maioria dos casos, sem a utilização de tecnologias que reduzam substancialmente a perda de terras aráveis. “Dessa forma, as pastagens em geral têm mais gado do que poderiam suportar, levando ao sobrepastoreio, que prejudica o local”, diz.
Para o geógrafo João Osvaldo Rodrigues Nunes, do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia do campus de Presidente Prudente da Universidade Estadual Paulista (Unesp), essa situação decorre da ação humana sobre as paisagens com tendência a virar deserto. “Entre elas, o uso intensivo de implementos agrícolas, com base na monocultura, sobre ambientes ecologicamente frágeis; atividades de mineração sem controle das drenagens superficiais com excessivo revolvimento das coberturas; o uso intensivo de solos com textura arenosa em ambientes semiáridos; e a redução da vegetação por conta do desmatamento em cabeceiras de drenagem e matas ciliares, em áreas de preservação permanente.”

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