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sábado, 8 de janeiro de 2011

UNIVERSO PARALELO

Uma teoria surgida há pouco mais de 50 anos - e considerada de início um absurdo total - vai ganhando cada vez mais espaço na física moderna

Para os autores de ficção, desde Jorge Luis Borges e seu conto clássico "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" até episódios da telecinessérie Jornada nas Estrelas ou o recente filme A Bússola Dourada, o tema dos universos paralelos exerce um eterno fascínio. Afinal, quem resiste à ideia de que, num outro plano, pode existir um outro eu vivendo uma vida diferente desta aqui? O que muita gente não sabe é que a hipótese não se restringe à ficção: a ciência anda namorando-a há um bom tempo e leva-a cada vez mais a sério.
Como não poderia deixar de ser, a área científica que aloja essa ideia é a física quântica - aquela que estuda as leis do mundo subatômico, as quais reduzem tudo a probabilidades e cujas esquisitices incomodaram ninguém menos do que Albert Einstein. Os mundos paralelos emergiram na academia como solução a uma das charadas quânticas mais conhecidas: a do gato de Schrödinger.
Nesse desafio, criado pelo físico austríaco Erwin Schrödinger em 1935, um gato é colocado numa caixa selada com um contador Geiger, um frasco de veneno e um átomo radiativo que tem 50% de chance de desintegrar dentro de uma hora. Se o átomo se desintegra, o contador Geiger percebe e aciona um mecanismo que quebra o frasco de veneno, levando o gato à morte. De acordo com a teoria quântica, ao final daquela hora o átomo deve se encontrar num estado superposto de desintegração e de não desintegração. Ou seja: o gato está ao mesmo tempo num estado insólito, tanto de vivo quanto de morto.
Schrödinger propôs seu enigma como uma forma de sublinhar como a teoria quântica pode desafiar o senso comum. De fato, como alguém pode estar vivo e morto ao mesmo tempo? Os cientistas puseram suas mentes para trabalhar no assunto e, de início, pensou-se que a solução era forçar o mundo quântico a decidir-se por uma das soluções, abrindo a caixa e observando seu conteúdo. Essa solução é conhecida como interpretação de Copenhague - a opção considerada pelo físico dinamarquês Niels Bohr que destaca o papel do observador do fenômeno. Detalhe frágil dela: os pesquisadores teriam de monitorar o tal gato por uma hora.
Em 1957, o norte-americano Hugh Everett III, então aluno da Universidade de Princeton, propôs uma nova perspectiva para o enigma. Segundo ele, a matemática da teoria quântica realmente descreve a realidade e, se suas equações desembocam em resultados diferentes, todos eles podem ser concretizados em algum lugar. A pergunta óbvia, nesse caso, era: onde?
Como a ideia parecia maluca demais e Everett não continuou a pesquisar nessa área (ainda antes de seu ensaio ser publicado, ele aceitou um convite para trabalhar na indústria de armamentos), o tema caiu rapidamente no esquecimento. Em 1970, porém, outro norteamericano, Bryce DeWitt, da Universidade do Texas, reviu o trabalho de Everett e concluiu que todos esses resultados só poderiam ocorrer em universos paralelos. De acordo com DeWitt, tais universos coincidiriam com o nosso em termos espaciais, mas estariam isolados, e em consequência teriam uma interação muito pequena com nosso universo. A hipótese ganhou o rótulo de "interpretação de muitos mundos": cada resultado possível corresponde ao surgimento de um novo universo. No caso do gato, em um universo ele esbanja saúde, mas em outro está definitivamente morto.
A revisão de DeWitt passou a ser considerada mais palatável para os físicos quando estes começaram a aceitar que, para elaborar a teoria unificadora de todas as leis da natureza - aquela que reunirá a relatividade de Einstein à quântica -, seria preciso haver outras dimensões além das três comuns. Mesmo assim, a ideia de universos paralelos na ciência ainda demoraria mais algumas décadas para deslanchar.
Num universo, o gato da charada de schrödinger esbanja saúde; em outro, está morto

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